(Um
comentário sobre um fragmento tirado do “The Essentials of Faith Alone” por
Mestre Seikaku)
Os
quatro erros sobre o Nembutsu, apresentado pelo Mestre Seikaku no fragmento
escolhido do livro Essentials of Faith
Alone, refere-se a má interpretação sobre a impermanência, mal karma, bom
karma, e a questão sobre a quantidade de recitações do Nome de Buda Amida.
Se
desejamos compreender um certo objeto, procuramos por suas qualidades, os
elementos que o compõe. Quais são os elementos e qualidades fundamentais da
vida? Corpo e mente que estão sujeitos a um ciclo inexorável de nascimentos,
crescimentos, maturidade, decadência e morte. Decadência e morte...
especialmente estes dois devem atrair nossa atenção do mesmo modo que
analizamos um certo objeto: algumas qualidades distinguem-se das outras e levam
para a definição do objeto.
No
caso da vida, a impermanência é a característica fundamental. Então, o que
fazemos com um objeto que tem a impermanência como principal qualidade? O que é
tão escorregadio como um sabão e tão perigoso que, quando mal compreendido e
utilizado, dá vazão ao sofrimento? Esta é a pergunta mais importante. Todos os
praticantes verdadeiros analizaram e analizarão
esta vida com a mesma seriedade que Siddhartha tratou o encontro com um
homem velho, uma pessoa doente e uma pessoa morta. Sua vida não mais poderia
ser a mesma após estes encontros.
A
vida de alguém que está consciente da verdade da impermanência não é sempre
dividida entre o momento presente e o momento da morte, ao invés disso é uma
vida em que o momento da morte é vivido aqui e agora, neste segundo. Minha
conversão aconteceu no momento em que a distância entre mim e minha morte foi
reduzida a zero. Até então, eu sempre pensei que tinha muito tempo para a
meditação, para ser sábio, para ler, etc. Mas naquele momento, vi que não tinha
tempo. Shinjin é ás vezes recebido no leito de morte. Pelo menos, foi assim no
meu caso. É por isso que o Nembutsu daquele momento continuou até agora, porque
o primeiro Nembutsu, foi o Nembutsu de uma pessoa diante da morte.
Mas
por quê minha conversão de uma prática do Poder Próprio para uma prática
baseada no Outro Poder? Por quê não para “uma prática melhor” ainda dentro das práticas do Poder
Próprio? A resposta foi porque eu me senti como se eu não pudesse confiar em
mim mesmo. Porque no momento em que uma pessoa sente a fragilidade do corpo e
vê com os próprios olhos o corpo de um
amigo ou parente próximo, não é possível louvar as próprias capacidades. No
momento da minha conversão eu senti que não podia ser um refúgio para mim mesmo
e então Amida tornou-se o meu único refúgio. Desde então eu continuo a
experimentar esta verdade todos os dias. Não apenas a perspectiva da minha
morte mas também da minha vida pessoal, é um lembrete constante da necessidade
de livrar-me de mim mesmo no abraço de Amida.
Mestre
Rennyo disse:
“O
ensinamento do Dharma do Buda é o ensinamento do não-ego.”
No
budismo, o ensinamento do não-ego geralmente está relacionado com a imagem dos
Bodhisattvas que nunca pensam em si mesmos mas sempre se dedicam a salvação de
todos os seres. Isto é verdade mas é apenas um aspecto deles. Como podemos nós,
pessoas ignorantes, entender o ensinamento do não-ego? De que maneira
encontramos este ensinamento enfatizado no Jodo Shinshu? Seguir o ensinamento
do não-ego também quer dizer abandonar de uma vez qualquer pensamento de mérito
e demérito e não incluir nenhum cálculo pessoal em questões que envolvam o
nascimento na Terra Pura.
Rennyo
Shonin também disse:
“Quando um único pensamento de fé é despertado
em nós, o nosso nascimento na Terra Pura é definitivamente assegurado.
Tathagata Amida pode nos salvar após destruir nosso karma maléfico ou não, é
inútil para nós discutirmos a respeito do nossos males kármicos. O que importa
é que Amida salva aqueles que confiam nele.”
Eu
vejo estas duas visões, corrigidas por Mestre Seikaku, sobre a influência do
karma maléfico ou benéfico no ato que nos leva a Terra Pura, á luz das duas
explicações dadas por Rennyo Shonin. Da mesma forma, Seikaku demonstra a
futilidade de qualquer apego em relação ao seu karma maléfico ou benéfico do
passado.
Preocupar-se
com o seu karma significa estar cego e não ver Buda. Significa não ouvir o
ensinamento e sim os ruídos de nossos egos. Porque o que está na essência da
nossa prática de recitar com fé o Nome do Buda, se não escapar das armadilhas
perigosas do ego que pensa ser o centro do universo? O ego tenta em vão mentir
para si mesmo dizendo que consegue transcender a si próprio e atingir o Nirvana
através dos próprios esforços, quando, de fato, não faz nada além de
fortalecer-se de modo sutil, colocando ainda mais obstáculos entre si e a
verdadeira Iluminação.
Eu
me pergunto, como pode o ego superar a si mesmo enquanto ainda confia em si
próprio – como podemos fazer um espelho polindo um tijolo? Estas são as
perguntas fundamentais do Jodo Shinshu.
Então
a questão sobre “quantas vezes devemos recitar o Nembutsu” é algo inútil para
alguém que confia em Amida. Não devemos complicar as coisas mas buscar
compreender o essencial. Para uma pessoa de fé, o Nome não é separado do
shinjin (coração confiante).
Saichi
said:
“Quando
alguém pega uma gripe, não pode parar de tossir. Eu peguei a gripe do Dharma de
Buda e não consigo parar de tossir o Nembutsu.”
Nembutsu
não aparece antes do despertar da fé do mesmo modo que tossir não produz uma
gripe, mas é a manifestação dela. Eu gosto desta explicação simples sobre a
relação entre o Shinjin e o Nembutsu. É muito simples deduzir daí que a
quantidade de vezes que recitamos o Nembutsu não é importante, mas é claro que,
se pegamos uma gripe, tossimos muitas vezes. Seria muita estupidez pensar que
uma gripe se manifesta através de uma única tossida, mesmo que percebamos a
gripe no momento da primeira tosse. Do mesmo modo, quando confiamos pela
primeira vez em Amida, recitamos o Nembutsu espontaneamente, como expressão da fé. Namo Amida Butsu – Eu tomo refúgio em Amida! – isto é algo muito natural.
Então, porque estamos “infectados” com o shinjin, continuaremos a recitar o
Nembutsu no futuro.
Pensar
em “quantas vezes uma pessoa precisa tossir quando tem uma gripe” ou “quantas
vezes é preciso dizer ‘eu te amo’ quando se está apaixonado” é filosofar a
respeito da gripe ou do amor. É olhar de fora. Ficar de fora e olhar para o
Voto Original, perguntando-se quantas vezes é preciso dizer o Nembutsu,
significa que você ainda não “se agarrou nas mangas de Amida”, como diz Rennyo.
Precisamos
de fato nos deixar ser abraçados pelo Nembutsu, ou seja, confiar plenamente em
Amida e não se preocupar com nada mais. E precisamos fazer isso hoje, isto é,
aqui e agora, no leito de morte de hoje, quando todas as perguntas inúteis
cessam e o Nembutsu aparece espontaneamente.
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