Mestre T'an-luan (476-542)
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A doutrina dos Três Corpos do Buda (aspectos) e a doutrina dos Dois Corpos do Buda geralmente não são compreendidas por aqueles
que não aceitam a existência dos muitos Budas transcendentais no Mahayana[1].
Enquanto a verdadeira razão para esta atitude é a visão materialista do
universo, estas pessoas usam o Dharmakaya sem forma (Dharmakaya da natureza do
Dharma) como desculpa e argumento para reduzir todas as manifestações
transcendentais a meros símbolos ou metáforas, chegando até a culpar o folclore
budista por sua presença nas escrituras canônicas.
Mas, com certeza, o Mestre T´an-luan não
compartilhava desta visão quando ele claramente dizia que justamente devido ao Dharmakaya não ter forma, não há
forma que ele não possa manifestar.
“O Dharmakaya incondicionado é o corpo da
natureza do Dharma. Porque a natureza do Dharma é Nirvânica, o Dharmakaya não
tem forma. Porque ele não tem forma, não há forma que ele não possa manifestar.
Portanto, o corpo adornado com as marcas de excelência é o próprio Dharmakaya”.
“O corpo adornado com as marcas de excelência” é a manifestação
transcendental específica de cada Buda para
a salvação dos seres sencientes:
“O Dharmakaya não tem forma própria e ainda
assim manifesta várias formas, correspondendo ás condições e capacidades de
seres sencientes.”
No caso de Buda Amida, esta é a Forma que ele
tomou na Terra Pura; é Amida como descrito no Sutra Maior por Shakyamuni e visto e ouvido por todos que estavam
reunidos no Pico do Abutres para ouvir este Sutra. É o Amida que sempre nos
acompanha, seres sencientes que confiam nele.
Dharmakaya Supremo ou Dharmakaya da natureza do
Dharma está além do tempo e da forma, não pode ser percebido como objeto de fé.
Vivemos este Dharmakaya Supremo apenas após atingir o Estado de Buda na Terra
Pura, mas aqui e agora, seres comuns e não iluminados como nós não podem
entender ou encontrar identificação com ele. É por isso que Buda Amida não permaneceu enclausurado em
sua seu Dharmakaya sem forma Supremo, mas manifestou-se na forma descrita por
Shakyamuni no Sutra Maior e estabeleceu sua Terra Pura.
Mesmo Buda Amida em sua Forma e Nome sendo
inseparável de seu Dharmakaya sem forma, isto não significa que ele não existe
ou é apenas um símbolo ou personagem fictício. Mesmo os dois Dharmakayas sendo
inseparáveis, eles são diferentes; eles são um, mas não o mesmo.
Então, mesmo aceitando
que Amida tem o aspecto de Dharmakaya supremo e sem forma, devemos identificar
nossa fé com Amida com Forma e Nome, no Amida descrito no Sutra Maior e no Amida que agora reside na Terra Pura. Aqueles que
não entendem esta diferença mas continuam a negar a existência de Buda Amida em
Forma e Nome não estão praticando de acordo com o Dharma, como diz T’an-luan:
“Qual é a
causa da prática não estar de acordo com o Dharma ou de não concordar com o
significado do Nome? É devido a falha
em entender que Amida Tathagata é um Corpo de Realidade [Suprema] e um Corpo
para a salvação de Seres Vivos.”
Quando recitamos o Nembutsu,
tomamos como objeto de fé e refúgio, o Nome do Buda Amida em sua manifestação
gloriosa para a salvação dos seres sencientes (Dharmakaya da
Recompensa/Sambhogakaya):
“As
dez repetições do Nome emergem da fé intransponível tomando por objeto o Nome do
Tathagata Amida de um corpo glorioso do Dharmakaya da Recompensa que engloba
todos os méritos imensuráveis que são verdadeiros e puros.”
Negar a existência
de Budas transcendentais, incluindo Amida, em suas várias manifestações, é, segundo
T´an-luan, o pior tipo de abuso do Dharma correto. Em um diálogo famoso no Ojoronchu, mais
tarde mencionado por Shinran no seu Kyogyoshinsho, ele explica que o único
obstáculo para o nascimento na Terra Pura e a única verdadeira exclusão no Voto
Original é o ato de abusar do Dharma correto. Então, ele define o abuso do
Dharma correto assim:
“Se alguém diz ‚ ‘não há Buda, ‘não há
Dharma de Buda, ‘não há Bodhisattva’ e ‘não há Dharma para os Bodhisattvas’, estas
visões, quando firmemente enraizadas na mente através da própria razão ou dos
ensinamentos alheios, são chamadas de visões que ‘abusam do Dharma correto’”
A questão é que aqueles que consideram como
ficção a história contada por Shakyamuni no Sutra
Maior sobre o Boddhisattva Dharmakara ter se tornado Amida e que consideram
Dharmakara ou Amida como seres fictícios, estão na verdade dizendo “Bodhisattva
Dharmakara não existiu” e “não há Buda Amida”. O ato de negar a existência do
Buda Amida e seu Dharmakaya da Recompensa (forma Sambhogakaya) ou o Corpo
(Aspecto) para a salvação dos seres vivos, é abuso do Dharma correto. Por esta
razão, aqueles que ensinam estas visões estão excluídos do nascimento na Terra
Pura. Mais do que isso, quando as suas vidas atuais chegarem ao fim, nascerão
no Inferno Aivici, como T’an-luan explicou:
“Aquele
que cometeu a transgressão de abusar o Dharma não atingirá o Nascimento, mesmo
que não tenha cometido nenhuma outra maldade. Por qual
razão? No Sutra Mahaprajnaparamita[2] é
dito:
[…] Aqueles que abusaram do Dharma correto também cairão no Inferno
Aivici. Quando o
periodo de um kalpa se passar, serão enviados para o Inferno Aivici de outro
mundo. Desta forma, estes malfeitores irão passar por cem mil Infernos Aivici
consecutivamente.’
O Buda então não mencionou o tempo da
libertação do inferno Aivici. Isto é porque esta transgressão, do abuso do
Dharma correto, é extremamente grave.
Além do mais, o Dharma correto refere-se ao
Dharma do Buda. Não faz sentido que pessoas ignorantes que abusam do Dharma aspirem
o nascimento em uma terra do Buda,
certo?
O Sutra
Maior é o Dharma de Amida ensinado por Buda Shakyamuni com a intenção de
ajudar os seres sencientes a nascerem na Terra Pura do Buda Amida. Como podem
aqueles que não tomam este Sutra e o Dharma como genuínos, chamando-os demitologia ou ficção, nascer na Terra Pura do Buda cuja existência é negada por
eles? Sem dúvida, como T’an-luan disse: “não
faz sentido”, não é?
fragmento
do meu livro,
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