Há
muitas situações em que você quer fazer alguma coisa mas seu corpo não obedece
aos seus desejos. Por exemplo, você gostaria de ler e estudar a noite inteira,
mas o seu corpo deseja dormir. Ou, você tem uma tarefa muito importante para
terminar, mas o seu corpo sente fome e precisa comer. Você também precisa ir ao
banheiro todos os dias, muitas vezes ao dia.
Sono,
fome, sede e necessidade de urinar vêm automaticamente, independente da sua
vontade. Então, parece que o seu corpo
tem a sua própria necessidade e seus próprios mecanismos.
Mesmo
agora, enquanto você lê estas linhas, seu estômago está digerindo comida, o
coração está batendo, o sangue está correndo pelas suas veias. Ou seja, muitos
órgãos estão agindo segundo suas rotinas diárias sem que você esteja consciente
delas.
Neste
exato momento em que você está curtindo sua leitura, pode acontecer de você
precisar ir ao banheiro. Há muitas situações em que você não quer ir ao
banheiro. Pode ser que você esteja assistindo a um ótimo filme, ou esteja em
ótima companhia ou ouvindo o Dharma. Mas, gostando ou não, você será forçado a
interromper qualquer atividade prazerosa para urinar. A urina se forma no seu
corpo sem que você perceba e, de tempos em tempos, você precisará ir ao
banheiro, gostando ou não.
O que
estas situações simples nos mostram e como deveríamos interpreta-las? Para mim, tudo isso é uma prova clara de que eu
não sou o meu corpo. É simples assim.
Como
posso ser um e o mesmo com o meu corpo se, quando quero fazer alguma coisa, ele
não obedece aos meus comandos. Se eu fosse o meu corpo, então quando eu
quisesse fazer isto ou aquilo, poderia faze-los
sem impedimentos.
No
entanto, é muito claro que o corpo tem os seus próprios mecanismos. Ele cresce
da infância para a maturidade até a velhice sozinho, desenvolve-se e
transforma-se sozinho e eu (este fluxo mental que chamo de “eu”) não pode fazer
nada a respeito. Posso ter meus próprios planos e desejos, mas o corpo segue
seu próprio curso e mesmo que eu queira que ele dure pela eternidade, isso
nunca acontecerá.
A
verdade simples é que o meu fluxo mental está apenas coberto pelo corpo,
carregado pelo corpo, influenciado pelo corpo, mas eu tenho certeza de que não
sou o meu corpo. Isto é muito lógico. O corpo é apenas uma máquina que trabalha
automaticamente desde que tenha combustível, que consiste de comida, água, ar,
etc. Esta máquina tem necessidades assim
como qualquer outra máquina e precisa ser abrigada da chuva e outros elementos
físicos.
A
consciência ou o fluxo de consciência (ou fluxo mental) é impregnado no corpo,
é por isso que eu sinto a dor e os prazeres que vem dele. Também, a consciência
é limitada pelo corpo. Por exemplo, desde que “eu” esteja no corpo, minha visão
será limitada pelos olhos, ouvidos, nariz, etc. Após a morte do corpo, o fluxo
mental (que sempre muda devido aos vários impulsos kármicos e desejos) vai para
outro veículo ou corpo e continua sua jornada pelos vários reinos de
existência. Apenas se você tiver fé no Buda Amida, seu corpo será transformado
em um Buda¹, completamente livre.
O medo
da morte aparece devido ao apego ao corpo e sua identificação com ele. A vida,
na concepção geral do mundo, dura apenas entre o nascimento e a morte do corpo.
Mas este período, enquanto você tem esta forma e é carregado por este veículo,
é apenas uma pequena parte de mudanças infinitas. Então, tente relaxar e não se
deixar levar pelo medo causado por visões e filosofias materialistas que
prevalecem agora no mundo.
Apenas
observe o seu corpo e perceba que você é diferente dele. É claro que o medo da
morte irá permanecer na sua mente mesmo após aceitar a diferença entre você e
seu corpo porque os apegos são difíceis ou até impossíveis de serem liberados
devido a muitas vidas passadas na ignorância. Mas, pelo menos você fez uma
grande mudança a nível intelectual.
Este
pequeno passo é muito importante para qualquer caminho religioso. Quando a sua
visão não for mais prisioneira das ideias materialistas, você estará pronto
para compreender melhor os ensinamentos budistas sobre o renascimento e karma e
irá acordar para o Estado de Buda, ou seja, liberação do nascimento e da morte.
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