Wednesday, November 12, 2014

Quatro erros a respeito do Nembutsu (impermanência, karma maléfico/bom karma ou o número de recitações)


(Um comentário sobre um fragmento tirado do “The Essentials of Faith Alone” por Mestre Seikaku)

Os quatro erros sobre o Nembutsu, apresentado pelo Mestre Seikaku no fragmento escolhido do livro Essentials of Faith Alone, refere-se a má interpretação sobre a impermanência, mal karma, bom karma, e a questão sobre a quantidade de recitações do Nome de Buda Amida.

Se desejamos compreender um certo objeto, procuramos por suas qualidades, os elementos que o compõe. Quais são os elementos e qualidades fundamentais da vida? Corpo e mente que estão sujeitos a um ciclo inexorável de nascimentos, crescimentos, maturidade, decadência e morte. Decadência e morte... especialmente estes dois devem atrair nossa atenção do mesmo modo que analizamos um certo objeto: algumas qualidades distinguem-se das outras e levam para a definição do objeto.

No caso da vida, a impermanência é a característica fundamental. Então, o que fazemos com um objeto que tem a impermanência como principal qualidade? O que é tão escorregadio como um sabão e tão perigoso que, quando mal compreendido e utilizado, dá vazão ao sofrimento? Esta é a pergunta mais importante. Todos os praticantes verdadeiros analizaram e analizarão  esta vida com a mesma seriedade que Siddhartha tratou o encontro com um homem velho, uma pessoa doente e uma pessoa morta. Sua vida não mais poderia ser a mesma após estes encontros.


A vida de alguém que está consciente da verdade da impermanência não é sempre dividida entre o momento presente e o momento da morte, ao invés disso é uma vida em que o momento da morte é vivido aqui e agora, neste segundo. Minha conversão aconteceu no momento em que a distância entre mim e minha morte foi reduzida a zero. Até então, eu sempre pensei que tinha muito tempo para a meditação, para ser sábio, para ler, etc. Mas naquele momento, vi que não tinha tempo. Shinjin é ás vezes recebido no leito de morte. Pelo menos, foi assim no meu caso. É por isso que o Nembutsu daquele momento continuou até agora, porque o primeiro Nembutsu, foi o Nembutsu de uma pessoa diante da morte.

Mas por quê minha conversão de uma prática do Poder Próprio para uma prática baseada no Outro Poder? Por quê não para “uma prática  melhor” ainda dentro das práticas do Poder Próprio? A resposta foi porque eu me senti como se eu não pudesse confiar em mim mesmo. Porque no momento em que uma pessoa sente a fragilidade do corpo e vê  com os próprios olhos o corpo de um amigo ou parente próximo, não é possível louvar as próprias capacidades. No momento da minha conversão eu senti que não podia ser um refúgio para mim mesmo e então Amida tornou-se o meu único refúgio. Desde então eu continuo a experimentar esta verdade todos os dias. Não apenas a perspectiva da minha morte mas também da minha vida pessoal, é um lembrete constante da necessidade de livrar-me de mim mesmo no abraço de Amida.

Mestre Rennyo disse:
“O ensinamento do Dharma do Buda é o ensinamento do não-ego.”
No budismo, o ensinamento do não-ego geralmente está relacionado com a imagem dos Bodhisattvas que nunca pensam em si mesmos mas sempre se dedicam a salvação de todos os seres. Isto é verdade mas é apenas um aspecto deles. Como podemos nós, pessoas ignorantes, entender o ensinamento do não-ego? De que maneira encontramos este ensinamento enfatizado no Jodo Shinshu? Seguir o ensinamento do não-ego também quer dizer abandonar de uma vez qualquer pensamento de mérito e demérito e não incluir nenhum cálculo pessoal em questões que envolvam o nascimento na Terra Pura.

Rennyo Shonin também disse:

“Quando um único pensamento de fé é despertado em nós, o nosso nascimento na Terra Pura é definitivamente assegurado. Tathagata Amida pode nos salvar após destruir nosso karma maléfico ou não, é inútil para nós discutirmos a respeito do nossos males kármicos. O que importa é que Amida salva aqueles que confiam nele.”

Eu vejo estas duas visões, corrigidas por Mestre Seikaku, sobre a influência do karma maléfico ou benéfico no ato que nos leva a Terra Pura, á luz das duas explicações dadas por Rennyo Shonin. Da mesma forma, Seikaku demonstra a futilidade de qualquer apego em relação ao seu karma maléfico ou benéfico do passado.

Preocupar-se com o seu karma significa estar cego e não ver Buda. Significa não ouvir o ensinamento e sim os ruídos de nossos egos. Porque o que está na essência da nossa prática de recitar com fé o Nome do Buda, se não escapar das armadilhas perigosas do ego que pensa ser o centro do universo? O ego tenta em vão mentir para si mesmo dizendo que consegue transcender a si próprio e atingir o Nirvana através dos próprios esforços, quando, de fato, não faz nada além de fortalecer-se de modo sutil, colocando ainda mais obstáculos entre si e a verdadeira Iluminação.

Eu me pergunto, como pode o ego superar a si mesmo enquanto ainda confia em si próprio – como podemos fazer um espelho polindo um tijolo? Estas são as perguntas fundamentais do Jodo Shinshu.
Então a questão sobre “quantas vezes devemos recitar o Nembutsu” é algo inútil para alguém que confia em Amida. Não devemos complicar as coisas mas buscar compreender o essencial. Para uma pessoa de fé, o Nome não é separado do shinjin (coração confiante).

Saichi said:
“Quando alguém pega uma gripe, não pode parar de tossir. Eu peguei a gripe do Dharma de Buda e não consigo parar de tossir o Nembutsu.”

Nembutsu não aparece antes do despertar da fé do mesmo modo que tossir não produz uma gripe, mas é a manifestação dela. Eu gosto desta explicação simples sobre a relação entre o Shinjin e o Nembutsu. É muito simples deduzir daí que a quantidade de vezes que recitamos o Nembutsu não é importante, mas é claro que, se pegamos uma gripe, tossimos muitas vezes. Seria muita estupidez pensar que uma gripe se manifesta através de uma única tossida, mesmo que percebamos a gripe no momento da primeira tosse. Do mesmo modo, quando confiamos pela primeira vez em Amida, recitamos o Nembutsu espontaneamente, como expressão da fé. Namo Amida Butsu – Eu tomo refúgio em Amida! – isto é algo muito natural. Então, porque estamos “infectados” com o shinjin, continuaremos a recitar o Nembutsu no futuro.

Pensar em “quantas vezes uma pessoa precisa tossir quando tem uma gripe” ou “quantas vezes é preciso dizer ‘eu te amo’ quando se está apaixonado” é filosofar a respeito da gripe ou do amor. É olhar de fora. Ficar de fora e olhar para o Voto Original, perguntando-se quantas vezes é preciso dizer o Nembutsu, significa que você ainda não “se agarrou nas mangas de Amida”, como diz Rennyo.

Precisamos de fato nos deixar ser abraçados pelo Nembutsu, ou seja, confiar plenamente em Amida e não se preocupar com nada mais. E precisamos fazer isso hoje, isto é, aqui e agora, no leito de morte de hoje, quando todas as perguntas inúteis cessam e o Nembutsu aparece espontaneamente.



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